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Sou atleta feminina: devo suplementar ferro?

Os estados deficitários de ferro (Fe) representam a carência mineral mais frequente no ser humano. Estima-se que mais de 500 milhões de indivíduos sejam portadores de anemia por deficiência de ferro. No atleta, este problema adquire outra dimensão, já que as perdas corporais habituais se somam às produzidas pela atividade física intensa. Dessa forma, não é estranho que com relativa frequência os atletas, principalmente do sexo feminino, refiram quadros de astenia, dificuldade para treinar normalmente e, em última instância, uma clara queda do rendimento desportivo.


A RDA de Fe é de 8mg ao dia nos homens, enquanto para as mulheres é de 18mg ao dia. Deve destacar-se que existem situações especiais, como é o caso das crianças, adolescentes, grávidas e atletas, nos quais essas necessidades podem estar importantemente aumentadas. Além de satisfazer adequadamente as necessidades nutricionais mínimas de Fe, deve ter-se em conta que a sua absorção não depende somente da quantidade total ingerida, mas também da biodisponibilidade de ferro nos alimentos, com uma absorção intestinal diferente dependendo de tratar-se de Fe heme ou de Fe não heme. O Fe heme representa cerca de 40% do Fe total contido nas carnes, peixes e mariscos, enquanto o Fe não heme perfaz os 60% restantes desses alimentos, além de todo o ferro contido nos outros alimentos, principalmente nos vegetais. De forma prática, aconselha-se que pelo menos 10% do Fe total ingerido seja Fe heme e o ideal é que os homens ingiram pelo menos 1,0 grama ao dia e as mulheres 1,5 grama ao dia desse tipo de Fe.


Considerando que o Fe desempenha um papel fundamental no transporte de oxigênio e na produção de energia, é necessária a manutenção de um equilíbrio nos atletas, já que a carência de Fe pode comprometer de forma importante os resultados desportivos. As perdas e déficits de Fe nos atletas podem ser consequência de diversos fatores, sendo que na maioria das vezes há a sobreposição de várias dessas causas. Estas podem ser classificadas em dois grupos: 1) as devidas a fatores nutricionais e 2) as ocasionadas por aumentos das necessidades e/ou das perdas de Fe. De todos os fatores possíveis, devido a fatores nutricionais é o principal componente para o aparecimento de um estado nutricional inadequado de ferro em atletas. Entre os fatores nutricionais destacam-se:


a) Ingestão insuficiente de Fe. Este é um fator bastante comum na população em geral. No caso do atleta e especialmente na mulher que pratica desportos nos quais a estética seja critério de pontuação, chega-se em algumas ocasiões a uma importante restrição da ingestão calórica e consequentemente de Fe.


b) Absorção intestinal reduzida pela própria composição da dieta. Conforme mencionado anteriormente, de acordo com a composição da dieta, a absorção de Fe pode ser facilitada ou inibida. Em outras ocasiões, como ocorre nos atletas que fazem dietas vegetarianas, embora seja atingida a ingestão mínima recomendada de Fe, quase todo o Fe ingerido é do tipo não heme, com a consequente dificuldade para a sua absorção intestinal, o que se traduz em níveis séricos de ferritina inferiores aos de outros atletas que têm uma dieta normal.


Nas mulheres em idade fértil existe outro fator que pode influenciar o aparecimento de um estado nutricional inadequado de ferro que é a menstruação. A perda de sangue, varia de 30 a 100 ml, e pode ocasionar uma relação inversa, entre os níveis de ferritina e o fluxo menstrual.


Utilizando os valores citados na DRI (2001), ferritina <12 µg/L, alguns autores demonstraram aumento da concentração de lactato, o que acelera a fadiga por acidose metabólica, e ocasiona diminuição da capacidade de trabalho, quando esses atletas apresentam depleção completa de ferro. Ocasionando também o aumento da vulnerabilidade do organismo ao balanço negativo de ferro, expondo as possíveis alterações funcionais. Neste caso, é sugerida a suplementação a esses atletas, para prevenir o surgimento de anemia por deficiência de ferro e a manutenção do desempenho.


Considerando os fatores de risco e as consequências deste défice nutricional na população em geral, e em particular em atletas femininas, monitorizar regularmente o status de ferro dos atletas e educá-los, assim como aos treinadores e pais/cuidadores, para práticas alimentares adequadas, é essencial para garantir um aporte energético suficiente e deverá ser o caminho para a prevenção deste e outros défices nutricionais.


 

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Por: Mariana Pereira: Nutricionista do clube de saúde Kalorias Gaia, membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas nº3055N ( marianapereira@kalorias.com )

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