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Vitamina c: Previne mesmo a gripe?


A gripe é uma das doenças mais frequentes na população em geral. O termo não se refere a uma condição específica, mas a um grupo de sintomas como obstrução nasal, dor de garganta, tosse, cansaço que envolve diminuição da energia e fraqueza, com ou sem febre. Esses sintomas apresentam múltiplos agentes causadores e a recuperação dura em média duas semanas, sendo tratado pela própria pessoa, onde muitas procuram produtos vendidos sem receita médica. Geralmente esses produtos contêm suplementos em altas doses de vitamina C (ácido ascórbico).


A vitamina C é um potente antioxidante, solúvel em água, que aumenta o sistema imunológico, podendo ser potencialmente explicado pela proteção contra o stress oxidativo gerado durante as infeções, como também um possível aumento na produção de anticorpos. A Vitamina C não é produzida endogenamente em humanos e, portanto, é um componente essencial da dieta, sendo encontrada em frutas e legumes frescos, tendo que ser consumida em uma dose diária de 90mg para homens e 75mg para mulheres de acordo com as recomendações dos Institutos Nacionais de Saúde. Com isso, o consumo de uma laranja que possui em média 70mg de vitamina C ou de um brócolo que em média possui 90mg de vitamina C já são suficientes para atingir o consumo médio diário, lembrando que, consumir 5 porções variadas de frutas e vegetais diariamente podem fornecer mais de 200 mg de vitamina C.


Em 1970, Linus Pauling, lança um livro sobre “Vitamin C and the Common Cold”. A principal alegação do livro era que 1 grama (1.0000 mg) de vitamina C diariamente reduziria a incidência de gripe em 45% para a maioria das pessoas. Ele recomendava que se os sintomas de uma gripe começassem, deveríamos tomar 500 ou 1.000 mg de hora em hora por várias horas - ou de 4 a 10 gramas diariamente se os sintomas não desaparecessem com quantidades menores. Sem dúvida, a publicação deste livro, combinada com a reputação de Paulin – cientista que ganhou um Prêmio Nobel - tornou a vitamina C uma campeã em vendas.


Estudos experimentais do possível valor da vitamina C na prevenção de infeções têm sido conduzidos por investigadores da área médica desde muito cedo. No entanto, os fatos científicos não podem ser determinados de uma maneira tão simples. Até agora, pelo menos 30 experimentos testaram a capacidade da vitamina C em proteger contra a gripe em grandes grupos de pessoas. Quatro cientistas da área biomédica que analisaram os resultados destes ensaios concluíram que as alegações de Pauling não têm sustentação.


No que diz questão à duração e gravidade da gripe o estudo de Hemila (2013) concluiu que tanto em adultos quanto em crianças, com o uso de cerca de 1g/dia, a suplementação preventiva regular de vitamina C resultou em uma redução significativamente baixa na duração dos sintomas, sendo de 8% nos adultos e 14% em crianças. Com isso, não parece razoável ingerir vitamina C regularmente durante todo o ano se o benefício previsto for encurtar ligeiramente a duração dos sintomas que ocorrem para os adultos algumas vezes por ano e para as crianças meia dúzia de vezes por ano. No que diz respeito à gravidade dos sintomas, não houve diferença na incidência e apenas uma redução de 5% na gravidade para aqueles no grupo de vitamina C com dose de 2g/dia.


Faz sentido usar suplementos de vitamina C? Se sim, isto deveria ser feito diariamente ou apenas no primeiro sinal de sintoma da gripe ou de outra infeção? E qual dosagem deveria ser usada? Os muitos estudos realizados nos últimos 30 anos claramente provam que suplementos de vitamina C diariamente, seja de 100 mg ou 5.000 mg não previnem a gripe e proporcionam, apenas em algumas pessoas, uma ligeira redução na duração e severidade dos sintomas. Se escolher usar o suplemento quando a gripe atacar, não há nenhuma razão para tomar mais que 250 mg por dia, como mostrado no estudo de 1974 de Anderson. Esta quantidade é facilmente obtida através de um "remédio" antigo: sumo de frutas. Não foi demonstrado que a suplementação com quantidades maiores de vitamina C seja mais eficaz, e até pode causar diarreia ou ter outros efeitos colaterais.


 

Fontes:


1. Bucher, A.; N. W. "Vitamina C na prevenção e tratamento do resfriado comum." American journal of lifestyle medicine. 2016. vol. 10,3 181-183. doi: 10.1177 / 1559827616629092. Disponível em: Vitamin C in the Prevention and Treatment of the Common Cold Acesso em 7 de Agosto de 2021.

2. Quidel, S., et. al. What are the effects of vitamin C on the duration and severity of the common cold?. Medwave. 2018 ;18(6):e7261. Disponível em: https://www.medwave.cl/link.cgi/English/Updates/Epistemonikos/7260 . doi:10.5867/medwave.2018.06.7260 . Acesso em 7 de agosto de 2021

3. Hemilä H. Vitamin C intake and susceptibility to the common cold. Br J Nutr. 1997;77(1):59‐72. doi:10.1017/s0007114500002889 Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/9059230/ Acesso em: 7 de agosto de 2021.

4. Hemilä H, Chalker E. Vitamin C for preventing and treating the common cold. Cochrane Database of Systematic Reviews 2013. DOI: 10.1002/14651858.CD000980.pub4. Disponível em: https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD000980.pub4/full/pt#CD000980-sec1-0001 . Acesso em: 7 de agosto de 2021.

5. Institutos Nacionais de Saúde (INS). Escritório de Suplementos Dietéticos. Vitamina C: ficha informativa para profissionais de saúde. 5 de junho de 2013. Disponível em: https://ods.od.nih.gov/factsheets/VitaminC-HealthProfessional/. Acesso em: 7 de agosto de 2021.

6. Natural Medicines. Base de dados abrangente sobre medicamentos naturais. Vitamina C. 17 de março de 2015. Disponível em: www.naturaldatabase.com. Acesso em: 7 de agosto de 2021.

7. Pauling L: Vitamin C, the Common Cold and the Flu. San Francisco: WH Freeman, 1976.

8. Chalmers TC. Effects of ascorbic acid on the common cold. An evaluation of the evidence. American Journal of Medicine 58-:532-536, 1975.

9. Dykes MH, Meier P. Ascorbic acid and the common cold. Evaluation of its efficacy and toxicity. JAMA 231:1073-1079, 1975.

10. Taft G, Fieldhouse P. Vitamin C and the common cold. Public Health 92:19-25, 1978.

11. Truswell AS. Ascorbic acid (letter). New England Journal of Medicine 315:709, 1986.


 

Por: Mariana Pereira: Nutricionista do clube de saúde Kalorias Gaia, membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas nº3055N

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